quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

isto é muita emoção!

Há um novo novo fragmento de Safo!: o P. Köln 21351 [tradução e análise aqui: pp. 93-118] foi destronado do seu título, dez anos volvidos sobre a sua descoberta. A obra da poetisa vê-se enriquecida com este acréscimo substancial: falamos de praticamente trinta versos. Circula já na net o rascunho de um paper que Obbink, porventura o maior papirologista na área vivo, lerá em Março, onde o poema é apresentado e discutido. A Origem promete aos seus leitores regressar ao assunto. Dificilmente 2014 nos reserva maior surpresa que esta — mas quem sabe! 








cabeça de Safo, cópia em mármore de um original helenístico
@ Museu Arqueológico de Istambul 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Balanchine: a harmonia e a lógica clássica do movimento

"A significação máxima do homem pode cifrar-se no seu estar de pé", 
Vergílio Ferreira, Invocação ao meu corpo


"A resposta mais clara e mais duradoura, mais eficaz para a afirmação da hegemonia do Bailado, veio já no fim da vida dos Ballet Russes, em 1928, com Apollon Musagète, de Stravinsky-Balanchine. Neste ballet, a tradição clássica, em vez de se renegar ou de se disfarçar, como outras vezes fizera, é assumida completamente, reclamando a sua legitimidade, a sua criatividade. O Bailado proclama a causa da sua autenticidade, a lógica da sua vocação não-narrativa, e apodera-se plenamente da bagagem da técnica clássica para a levar mais longe. (...)
Ao escrever a partitura de Apollo - um ballet que, mais uma vez, parte da doutrina do compositor e não da fé do coreógrafo -, Stravinsky declarava explicitamente as suas intenções:

Podia realizar uma ideia em que pensava havia algum tempo, ou seja, compor um ballet sobre alguns momentos ou episódios da mitologia grega, cuja plasticidade seria dada sob uma forma transfigurada pela dança dita clássica. Decidi-me pelo tema de Apolo Musageta, o chefe das musas inspirando a cada uma a sua arte. Reduzi a três o seu número e escolhi Calíope, Polímnia e Terpsicore como as mais representativas da arte coreográfica. (...)

Apollon foi muitas vezes acusado de não pertencer ao teatro. É verdade que não há uma acção violenta, embora haja um ligeiro fio de história. (...)

Apollon faz parte do movimento geral du retour à l'ordre, à precisão clássica, como resposta à efusão quase barroca do início do século"

José Sasportes, Pensar a Dança, a reflexão estética de Mallarmé a Cocteau, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2006, p.194-196

Apollon Musagète

O bailado Apollon é dividido em duas partes: numa primeira parte, na versão original (muitas vezes ignorada em reposições), um prólogo em que se relata o nascimento de Apolo e a sua mãe em sofrimento de parto; numa segunda parte, Apolo cresce e aperfeiçoa a sua arte. É então visitado por três musas, Calíope, Polímnia e Terpsicore, as quais inicia também, respectivamente, cada uma, na sua arte: poesia, retórica e dança.

Na visualização do vídeo, podemos observar os seguintes momentos baléticos:
.Nascimento de Apolo
.Variação de Apolo,
.Pas de Quatre: Apolo e as Três Musas
.Variação de Calíope
.Variação de Polímnia
.Variação de Terpsicore
.Segunda Variação de Apolo
.Pas de Deux
.Coda
.Apoteose

 Vídeo: performance mais antiga do New York City Ballet, restaurada da coreografia original, com cenário completo, nascimento de Apolo e a subida final ao Monte Parnaso

Se a informação encontrada estiver correcta, Apollon foi dançado pela última vez no dia 22 de Setembro de 2012, pelo NewYork City Ballet.